domingo, 29 de novembro de 2015

De mim para Mim

Tenho saudades tuas, sabes. 
Daquele brilho de menina encantadora que esconde uma pureza que não mostra a ninguém. Saudades daquela mulher princesa que se estava a desenhar há 5 anos atrás. Neste tempo, a vida era um amor incondicional desmedido sem fim à vista. Neste tempo, o sorriso era de alguém que transbordava amor e sonhos. Nesse tempo, tinha um sorriso de menina pequena de 5 anos que tanta gente adorava. Sempre rodeada de Almas, enchia-se de vida a cada passo. Tenho saudades dessa miúda, com garra e atitude, que enchia a vida dos outros de Carinho, de Amor.
Apaixonada pela vida, ainda não sabia bem o que era ser Adulta mas sonhava com a Liberdade que teria nessa altura. Achava que tudo seria mais fácil quando conseguisse caminhar com os seus próprios passos. 
Um dia alguém lhe disse e ela cravou no peito "Nunca percas esse brilho no Olhar...". E ela não perdeu, nos primeiros anos. Esforçou-se, lutou por manter o brilho a alimentar o coração e foi conseguindo, pouco a pouco. Até que os cristais desenhados outrora deram lugar a um vidro sem reflexos. Nem sempre é fácil manter esse brilho com contornos de preenchimento total. A Paixão é um combustível que nem sempre consegue manter aceso dentro de si. E tal qual como um carrosel, mergulha nas sensações profundas de uma Alma em busca de si mesma. E através da Poesia das palavras, das imagens e dos mundos que cria no seu peito, aceita e segue viagem. 
Por segundos, deseja estar frente a frente com aquela menina-mulher de há 5 anos atrás. O que seria que ela jovem adulta cheia de liberdade diria a uma mulher de quase 30 anos e com uma vida meio cheia meio vazia? 

"Estás à espera do quê para te libertares de tudo o que te prende de ser Feliz? Verdadeiramente feliz não é mornamente feliz. És uma mulher lindíssima, inteligente, culta que tem de de aprender a Amar-se, de uma vez por todas. Chega de olhar para o passado, para o que foste e foca-te naquilo que tu queres ser para ti. Traça objectivos, metas, SONHA...há quando tempo não fazes uma loucura, algo radical na tua vida? Faz tanta falta, sabes. Sentir a liberdade nas Asas. 
Vive. Ama. Apaixona-te vezes e vezes sem conta. Corre atrás do que te Alimenta. O tempo é tão curto e tu aqui a fingires que Vives. Nota-se que te falta Brilho nos Olhar...preenchimento, que o teu coração não palpita. Reflecte: é assim que queres viver nos próximos 10 anos? Sente-te...e terás as respostas para o passo a seguir...".

Silêncio...
Ambas sorriem em silêncio.
A verdade reside no silêncio dos sábios.


quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Eternizar o Azul

Recomeçar o Azul. Terminar o Azul. Desejar o Azul. A tela, que subitamente se encheu em poucos minutos desvaneceu-se no Ar. O Pintor outrora apaixonado e fervente deixou que a mente dominasse cada momento, embora desejasse continuar aquela que poderia ser a tela da sua vida. Nas hesitações, nas dúvidas, no certo e errado, uma decisão foi tomada. Mas era a mente que falava. 
Não era o coração que de emoções transbordava. Envolvidos num abraço, numa mistura de sensações e com o Universo a ecoar notas musiciais, despediram-se. 
Ele, pintor de sonhos azuis, de dádivas dolorosas, envolveu num abraço todo um final destinado. Mas queria mais, queria descobrir porque é que tinha tanta vontade de se descobrir nela. A cor, de sangue fervente, deixou uma tela por pintar, pintando a saudade no Ar. Despediram-se. Uma história de Arte nunca descoberta, nunca vivida mas desejada. Um desejo de mais, de viver uma vida de partilha de imagens, de pinturas nunca antes alcançadas, de sonhos profundos realizados. A cor desvaneceu-se e saiu daquele abraço, daquela Tela que tinha apenas alguns traços. 
O pintor não desistiu do seu coração e desenhou, a carvão, sem cor e apenas para si a obra que representa toda a Arte que ambos sentiram. Guardou-a no coração e fechou-a para si. Quem sabe um dia a Cor regresse e terminem juntos o que nunca chegou a começar. Por Agora fica aquele Azul eternizado, no momento, perfeito, verdadeiro. 





domingo, 16 de junho de 2013

Travessia

Escrever-me. É hoje uma necessidade que quero traduzir nas palavras que me habitam. Tenho um mundo de "eus" a gritarem por serem ouvidos, a quererem ter voz, a existir através das minhas letras, dos meus textos, da minha alma. Navego neste momento por águas calmas, tranquilas após a agitação provocada pela ave de penas azuis esverdeadas. No momento em que aquela ave voou para junto de mim novamente, o baú das memórias invadiu-me: todo um passado de ilusões, de completude, de semelhanças face a uma relação complementar, oposta e promotora de crescimento. Mais uma vez, as dúvidas tomaram conta de mim, as emoções colaram-se ao coração e contaminaram o meu olhar, apagaram o meu sorriso e incendiaram o meu desespero. Procurei por respostas no passado, tentei voar até à ave de penas azuis mas algo me dizia que ainda não era o momento e que aquilo que queria não era o que realmente precisava e que não podia obrigar ninguém a resolver as coisas quando ainda não era o tempo certo, quando ainda não se sabe voar nessa direcção. Há lutos por fazer, perdas para aceitar sem pensamentos eternos de que um dia as aves voltarão a voar juntas, pelos campos das ilusões. Não. É tempo de aceitar que é preciso aprender a voar, longe da dependência, da validação e da igualdade. Apenas quando voamos com a diferença, conseguimos crescer. Apenas quando aceitamos o suposto conflito, aprendemos a subir a espiral da evolução,a limpar o nosso karma e caminhar para o nosso dharma. É altura de perceber que a chave é o presente e que a ave do passado é apenas um manto de carinho e de crescimento que desejo acompanhar, ao longe. É tempo de desconstrução interior, de renovação emocional e de voar baixinho, sentindo apenas o ar no bico e a adrenalina de não ter os pés no chão. Mais tarde, quando preparada iniciarei voos mais ambiciosos. O passado vai continuar a passar pelo presente como forma de avaliação da aprendizagem, cada vez mais intensa e mais forte mas já não tenho medo. Aquilo que já foi conquistado, é impossível de perder ou recuar. Urge a necessidade de novos erros, de novas roupagens, de novo sentires e novos voos. É a ave que pretendo ser a minha maior prioridade e a ave ferida o meu destino. É tempo de renovar o Amor, transformar a relação de amor e possível eternidade. Precisam-se voos mais altos e intensos acompanhados de evolução, de aprendizagem, de novos saberes. A ave abre as asas junto ao rio que flui, atravessa a sua profundidade e voa, ainda molhada, rumo ao céu, onde deve permanecer e deixar-se envolver. É tempo de travessias.